quarta-feira, novembro 25, 2009

Curta Carajás

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Por Pedro Novaes

Júri e Oficineiro do Festival Curta Carajás.

Acabo de retornar, junto com Yuri, de Parauapebas, cidade do Sul do Pará, aos pés da Serra dos Carajás, onde ministramos oficinas e fomos membros do júri no 1° Curta Carajás – Festival de Cinema de Parauapebas. Foi uma ótima e surpreendente experiência. É muito bom ver como em lugares distantes do eixo Rio-São Paulo sempre há uma turma jovem entusiasmada com a possibilidade da produção audiovisual.

Em segundo lugar, me surpreendi com minha ignorância. Eu fazia uma vaga idéia do que era a região. E lá, me dei conta dos complexos problemas sociais, econômicos e ambientais que a afligem, tendo sido palco nas últimas décadas de vários episódios representativos dos problemas mais profundos do Brasil e que ganharam cobertura da mídia no mundo inteiro, como a Guerrilha do Araguaia, a existência da maior mina de ferro do mundo, o surgimento, febre e posterior fechamento de Serra Pelada, no vizinho município de Curionópolis – cujo grande coronel político não é outro senão o truculento oficial do exército que comandou a repressão à Guerrilha e que é suspeito de vários outros crimes -, o massacre dos sem-terra no vizinho município de Eldorado dos Carajás, o assassinato da irmã Dorothy.

Apesar de toda a riqueza que circula na região, Parauapebas é um município com graves problemas sociais. Sua população é composta por impressionantes 70% de migrantes do empobrecido e vizinho Maranhão e cresce a inimagináveis 9% ao ano. É um dos municípios com maior taxa de crescimento no país, as desigualdades saltam aos olhos, a infra-estrutura é precária, o esgoto corre a céu aberto em muitos lugares, a taxa de desemprego bate no céu.

O 1° Curta Carajás, capitaneado pela Secretaria Municipal de Cultura, foi muito bem organizado e reuniu em sua mostra competitiva 48 curtas de 16 estados do brasil, um belo panorama de nossa produção recente. Além disso, houve uma mostra paralela organizada pelo Cineclube Labirinto, sediado na cidade, com docs que tinham temas associados à região, e também uma mostra de filmes locais e outra organizada pela ABDeC Pará, só com curtas paraenses. No front de capacitação, aconteceram quatro oficinais: roteiro e direção, ministrada pelo Yuri Vieira, Produção de Baixo Orçamento, ministrada por mim, Fotografia, ministrada pelo Bruno Assis, de Belém, e edição, comandada por Reinaldo Rogério, também de Belém.

O júri oficial foi composto pelo Homero Flávio, presidente da ABDeC Pará, pelo Bruno Assis, pelo Yuri e por mim. Não foi tarefa fácil definir os premiados. Havia uma boa quantidade de possíveis candidatos a todos os prêmios previstos. No final, ficou assim:

MELHOR CURTA (PRÊMIO IPÊ) – “Brasília (Título Provisório)”, de J. Procópio (DF): trata-se de um hilário roteiro metalinguístico, que por sinal tira o maior sarro da moda de filmes de metalinguagem, em que um cineasta conta para um amigo seu projeto de um filme em que uma expedição arqueológica explora as ruínas de uma abandonada Brasília para fazer um documentário.

MELHOR ROTEIRO (PRÊMIO XIKRIN) – “Para Pedir Perdão”, de Iberê Carvalho (DF), em que um homem procura desesperadamente pela namorada numa noite de Carnaval em Brasília.

MELHOR MONTAGEM (PRÊMIO GAVIÃO REAL) – “Quarto 38″, de Thomas Edward Hale (SP): um assustador curta de suspense em que uma mulher presa em um porão onde coisas muito estranhas acontecem tenta escapar e encontrar sua irmã presa num quarto de hotel assombrado por uma estranha maldição.

Além disso, decidimos atribuir menções honrosas a dois documentários muito fortes, “Fractais Sertanejas” de Heraldo Cavalcanti (CE), que conta a incrível história de um pedreiro que, após uma experiência de quase-morte, se torna um grande escultor, e o impressionante “A Casa dos Mortos”, de Débora Diniz (DF), que num roteiro estruturado sobre um poema de um interno que é também narrador do filme, exibe a realidade de um manicômio judiciário em Salvador.

Por fim, o voto do júri popular terminou em empate, com o prêmio divido entre o “Quarto 38″ e “Pronta Entrega, de André Migueis (RJ).


Postado por Homero Flávio

Presidente da ABDeC Pará