sexta-feira, outubro 15, 2010

Resultado dos fundos de audiovisual da SAV

Confraternização e bate-boca marcam anúncio do Fundo Setorial do Audiovisual

Plantão | Publicada em 14/10/2010 às 14h34m
Rodrigo Fonseca Os produtores Luiz Carlos Barreto e Pedro Rovai batem boca durante anúncio dos contemplados do Fundo Setorial / Foto Marco Antônio Cavalcanti

RIO - De lágrimas de comoção a "lavação de roupa suja", com direito a xingamento e dedo na cara, não faltaram emoções ao anúncio dos 45 projetos de longa-metragem contemplados com R$ 39,2 milhões do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), divulgado nesta quinta-feira pela Agência Nacional do Cinema (Ancine), em sua sede, no Centro do Rio. Pelo menos para o diretor Neville d'Almeida, que vendeu sete milhões de ingressos com "A dama do lotação", em 1978, o dia 14 de outubro de 2010 será lembrado como uma data histórica.

Sem rodar um longa de ficção desde 1997, quando lançou "Navalha na carne", Neville, que hoje trabalha mais com videoinstalações, enfim conseguiu o apoio público necessário para filmar: no caso, a adaptação da peça "A frente fria que a chuva traz", do dramaturgo Mário Bortolotto. Ao ouvir seu nome, seguido de cifras no valor de R$ 1 milhão, os olhos do cineasta mineiro embotaram.

- O Fundo corrigiu uma distorção histórica, pois é um absurdo que um recordista de público como Neville não ganhe dinheiro de fomento desde a Embrafilme. Também foi uma alegria ver entre os contemplados um mestre como Ruy Guerra (que recebe R$ 1 milhão por "Quase memória"). Ruy merece - celebrava o diretor Paulo Thiago, que, como produtor, recebeu R$ 1 milhão para equalizar a finalização e o lançamento de "Aparecida, Padroeira do Brasil", rodado por Tizuka Yamasaki e agendado para estrear em 17 de dezembro.

Thiago falou o nome que serviu de estopim a uma discórdia ao fim do anúncio do FSA: Embrafilme, distribuidora e fomentadora do cinema nacional dos anos 70 e 80, sucateada na Era Collor, em 1990. Em meio a confraternizações, o produtor Luiz Carlos Barreto abordou nervosamente Pedro Carlos Rovai, diretor de "Ainda agarro essa vizinha", bradando: "Seu escroto! Você não deveria estar aqui".

- Era uma questão pessoal envolvendo a ata de extinção da Embrafilme. Rovai assinou um documento colocando mais de 30 produtores como devedores. O processo está rolando há 20 anos - disse Barretão.
Sua produtora recebeu o maior fomento do FSA em 2010: R$ 2,5 milhões para "A arte de perder", coprodução internacional com direção de seu filho, Bruno Barreto. Ele recebe ainda R$ 1 milhão por "Bandidos e mocinhas", de Daniel Tendler. Ao fim do bate-boca, Barreto e Rovai contemporizaram.

Sem filmar desde 1997, Neville de Almeida recebeu R$ 1 milhão para rodar 'A frente fria que a chuva traz' / Foto Marco Antônio Cavalcanti

- Eu fiz parte do conselho de liquidação da Embrafilme. Como o Barreto é estourado, ele acha que concordei com essa questão dos devedores. Chegou gritando, o que é chato, mas depois me pediu desculpas - diz Rovai, que recebeu R$ 695 mil pela comédia "Qualquer gato".

Rusgas à parte, o cinema foi surpreendido com a diversidade (temática, estética e até geográfica) dos longas selecionados, incluindo produções com vocação de mercado assumida como "Xingu", de Cao Hamburger, e "O homem do futuro", de Cláudio Torres, a obras de tônus autoral como "Os ventos que virão", do cearense Hermano Penna, realizador do cultuado "Sargento Getúlio". Sete animações entraram na seleção do FSA.

- É de absoluta importância que a gente consiga falar com todos os segmentos da sociedade brasileira, inclusive a criançada. E animação fala direto com esse público - disse Manoel Rangel, diretor-presidente da Ancine .

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